sábado, 25 de dezembro de 2010

LIDERANÇA E CORAGEM DE ASSUMIR OS ERROS

Eu estava ainda na quarta série primária. Era hora do recreio e, naquela época, a moda entre os estudantes era fazer campeonato de aviãozinho de papel.

Naquele dia particular, eu não estava com vontade de brincar. Fiquei apenas observando os colegas jogando ao ar as suas "aeronaves" de guerra. De repende, uma delas ficou estancada no alto de uma árvore. Logo, todos   estavam jogando pedras e pedaços de madeira seca que encontravam no chão, tentando recuperar o aviãozinho. Eu fiquei só olhando e, como ninguém teve sucesso, achei que seria a minha vez de mostrar serviço. Ocorre que, em vez de uma pedrinha, eu apanhei uma banda de tijolo que encontrei perto de mim, justamente aquele que os demais nem cogitaram utilizar.

Pronto! Lancei meu torpedo ao ar. Perto dali, uma meninas brincavam de "pega-pega." E vocês já imaginam o que aconteceu. Foi isso mesmo! Uma das meninas corria, quando, de repente, uma banda de tijolo, caída do céu e acertou-lhe a testa. Ela caiu seca, prostrada.

Eu fiquei estatelado. Achei que tinha matado a colega. O grupo correu para socorrê-la. Levantaram-na! - Graças a Deus! Pensei. Pelo menos, ela está viva.


Viva, porém, com um "mondrongo" na testa - é assim que chamamos um inchaço lá no Sertão - que mais parecia um tomate maduro estourado.      

Alguns colegas, logo me disseram: "Josias, salta o muro e foge, antes que a diretora apareça!" Parecia ser o mais lógico a fazer, para um garoto assustado que acabara de cometer um "quase-homicídio-não-culposo."  

Pensei, pensei, e pensei: tudo isso em dois segundos. Então, lembrei-me de meu pai. Ele me ensinara a assumir as consequências de minhas escolhas, de assumir meus erros e não colocar nos outros a culpa pelo meu momento difícil, mas aprender e crescer com cada experiência. Foi a voz dele em minha mente que me fez responder aos colegas: "Não! não vou correr! Vamos levar a menina para a diretoria." E lá fomos nós.


Eu tremia de medo, mas, ao mesmo tempo, sentia uma força muito forte me conduzindo à frente do grupo, carregando a moribunda. Naquele momento, eu era um líder.

Entrando na diretoria, ainda me lembro do espanto da diretora ao perguntar quem fizera aquilo. Prontamente, respondi: "Fui eu, professora! Foi sem querer..." E contei a história toda. O que me lembro é que, em seguida, ela me mandou ir à farmácia comprar uma pomada. Enfim, a menina recebeu os primeiros socorros e foi liberada.  

Naturalmente, levei de meus pais uma bronca das grandes. Não só pelo feito em si, mas pelas despesas que tivemos. Todavia, ao falar com minha mãe, a diretora ressaltou estar orgulhosa de mim, pois, nunca vira uma criança daquela idade com tanto senso de responsabilidade. Disse que meus pais deveriam se orgulhar de mim, mesmo estando apreensivos por causa do ocorrido.

Se eu tivesse saltado aquele muro e fugido, até seria compreensível para uma criança de 10 anos de idade, assustada, temerosa das consequências de um ato infantil. Mas, ter ficado, reforçou em mim o que eu aprendera com meu pai:  quando enfrentamos os problemas de frente e assumimos o erro que cometemos, isso produz muita dor, no momento, mas, lá na frente o efeito pessoal e coletivo é sempre muito mais saudável.


E um líder, em momentos de crise, tem de pensar na unidade do grupo e no bem coletivo, mais que na defesa de sua posição, a qualquer custo. É sempre saudável perguntar: Que equívocos posso ter cometido em palavras e atitudes, ao ponto de provocar tais reações da parte dos meus liderados? Aprender dói, mas aprender com os próprios erros dói muito mais. Porém, pouca coisa é tão digna e tão nobre.

Ao longo dessa série, esses "erros estratégicos" serão parte de minhas reflexões. Os equívocos recentes e os de outros tempos. Na verdade, ao longo desses vinte e poucos anos como líder de equipes remuneradas e, ou formadas por voluntários, tenho aprendido muito mais com os meus erros, que com meu sucesso. 

O sucesso deslumbra; o erro, quando refletido, refina, lapida...

Assim, termino parafraseando Sartre: o problema não é cometer erros, mas o que o líder faz com os erros que comete. É nesse sentido que Jesus nos ensina a entrar pela porta estreita e andar no caminho apertado. Por isso, um líder sério tira primeiro a trave que está no próprio olho, antes de apontar o cisco que o outro carrega no seu.


Um comentário:

  1. Essa sua esperiência é muito positiva para o que terei que passar no dia de hoje... Deus seja louvado pela sua vida.

    Cristina Morais

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