“Neurótico é aquele que, tentando evitar o não-ser,
evita o ser.” (Paul Tillich)
Maria trabalhava como
assistente administrativa de um empresa americana dirigida por um brasileiro.
Quando me procurou, estava frustrada por
causa das críticas diárias que recebia do
chefe: ”Você não faz nada certo... Não tem futuro nessa empresa... É uma tapada”, eram frases que costuma escutar. Ela se recolhia e continuava
seu trabalho, resignada , mas a raíva que sentia comprometia sua saúde
emocional e física. Aos poucos, foi assimilando as críticas, passando a se
considerar um “lixo”, sem valor e “sem futuro.” A falta de aprovação, rejeição
e críticas abusivas levaram Maria a um estado emocional crítico. Sua
autoestima, já fragilizada, despencou a níveis patológicos.
Neurose de aprovação é a pretensa necessidade de receber amor, atenção,
carinho, cuidado e aprovação de pessoas significativas. Quando não recebe, o mundo emocional
desmorona. A irracionalidade está na
necessidade de aceitação, condiçao sem a qual não dá pra ser feliz. É racional para
um adulto desejar a aprovação, atenção e admiração dos outros. Porém, é infantil
se comportar como se isso fosse condição para sua felicidade.
Uma coisa é querer receber afeto, atenção, cuidado e aprovação; outra
coisa é ficar paralisado na vida por não receber esses mimos. Nenhum ser humano
adulto precisa de aprovação para ser saudável e feliz. Crianças, sim, precisam de afeto,
cuidado, afirmação, carinho a aprovação por parte dos pais, responsáveis ou
outras pessoas significativas. Um adulto não necessita disso para ser feliz,
embora, seja bom que o tenha.
Quando a criança atua no adulto
Há duas posturas
dos pais que podem atrofiar o desenvolvimento emocional dos filhos: desantenção
e superproteção, respectivamente. São
atitudes opostas que podem produzir neuroses de aprovação que
caracterizam adultos exageradamente carentes ou excessivamente mimados. Essas
duas versões da mesma neurose exigem atenção, aprovação e amor das pessoas.
Quando nao recebem, essas crianças em corpo de adultos, ficam emburradas,
agressivas, por um lado; ou recolhidas e deprimidas, por outro lado. Tanto o comportamento de recolhimento quanto o de agressão prejudicam
a qualidade afetiva dos relacionamentos.
Por que é
infantil e irracional exigir amor,
cuidado e aprovação das pessoas?
1. É
virtualmente impossível exigir que seu
comportamento agrade a todos. Agradar a uns
e desagradar a outros faz parte da vida de qualquer ser humano. Isso porque “cada ponto de vista
é a penas a vista de um ponto” e é natural que as pessoas vejam cada situação a
partir de seu próprio ponto d eobservação. Tentar ocupar o ponto de vista de
cada pessoa é infantil e irracional.
2.
Quanto mais você
exige amor e atenção dos outros, menos respeito, admiração e cuidado
você recebe. Ninguém
consegue conviver satisfeito com pessoas excessivamente carentes ou agressivamente
pegajosas, porque sente seu território invadido. Demandas de afeto afetam a
qualidade dos relacionamentos, pois, afeto não se pede, muito menos se exige.
Afeto se conquista, ou não.
3.
Você cria
expectativas irreais em relação ao quanto e até que ponto as pessoas devem amar
você. Algumas pessoas
tem um temperamento que não demontra nem exige muito afeto das pessoas mais
próximas. Outras, demontram e exigem demais. Outras, ainda, demonram muito
pouco, mas demandam exageradamente. Esss diferenças na demontração e busca de
afeto, produzem muitos problemas relacionais e destróem amizades, parcerias e
casamentos, porque, exigir demais de quem demonstra pouco abre sempre uam
ferida afetiva na relação.
4.
Quanto mais você exige amor, mais “gostável” você acha
que deve se apresentar.
Muitas pessoas que dão muitos presentes, fazem muita caridade e nunca dizem não
quando são chamadas a ajudar os outros, fazem isso não por bondade, senso de
dever ético ou social. Na verdade, estão buscando aprovação do grupo ou de
alguém em particular.
5.
Quanto mais você
busca amor e atenção dos outros, mais você revela uma autoestima baixa. Autoestima que depende da estima externa para se
manter em alta, fica quase sempre baixa. Há
esposas que “perdem o dia” se o marido acorda de cara feia. Um funcionário se deprime
se o chefe o corrige. Um empreendedor abandona um projeto só porque parte da
equipe apontou defeitos de planejamento. Assim, a dependencia da valorização do
outro, gera profunda insegurança e oscilação da motivação, que sempre dança
conforme a musica que os outros tocam
6.
Você passa a viver para atingir às expectativas dos outros, em vez
gastar as energias para atingir seus objetivos. Viver para agradar os outros, tentando atrair sua
aprovação, faz você negligenciar seus próprios alvos. Sem foco, você passa a
fazer muito movimento sem deslocamento. Não chegando a lugar nenhum, você fica cada
vez mais dependente da atenção dos outros para ser feliz
Todos
nós precisamos de reconhecimento e respeito que vem do ambiente, da comunidade,
dos relacionamentos. Ser humano é ser-com-os-outros. Sem o outro o humano em
nós não desperta, nem evolui. Mas, perder o eferencial de si mesmo é igualmente
doentio. Adoecemos sem o outro e adoecemos quando nos perdemos na vontade do
outro. A saúde e a virtude está no equilíbrio entre ser-si-mesmo e
ser-com-alguém. Qualquer movimento além do centro resulta em desequilíbrio,
neurose e tantos outros males que atrofiam a alma e azeda as relações.