sábado, 28 de março de 2015

NEUROSE DE APROVAÇÃO



“Neurótico é aquele que, tentando evitar o não-ser, evita o ser.” (Paul Tillich)

Maria trabalhava como assistente administrativa de um empresa americana dirigida por um brasileiro. Quando me procurou, estava  frustrada por causa das  críticas diárias que recebia do chefe: ”Você não faz nada certo... Não tem futuro nessa empresa... É  uma tapada”,  eram frases que costuma escutar.  Ela se recolhia  e continuava  seu trabalho, resignada , mas a raíva que sentia comprometia sua saúde emocional e física. Aos poucos, foi assimilando as críticas, passando a se considerar um “lixo”, sem valor e “sem futuro.” A falta de aprovação, rejeição e críticas abusivas levaram Maria a um estado emocional crítico. Sua autoestima, já fragilizada, despencou a níveis patológicos. 

         Neurose de aprovação é a pretensa necessidade de receber amor, atenção, carinho, cuidado e aprovação de pessoas significativas.  Quando não recebe, o mundo emocional desmorona.  A irracionalidade está na necessidade de aceitação, condiçao sem a qual não dá pra ser feliz. É racional para um adulto desejar a aprovação, atenção e admiração dos outros. Porém, é infantil se comportar como se isso fosse condição para sua felicidade.

Uma coisa é querer receber afeto, atenção, cuidado e aprovação; outra coisa é ficar paralisado na vida por não receber esses mimos. Nenhum ser humano adulto precisa de aprovação para ser saudável  e feliz. Crianças, sim, precisam de afeto, cuidado, afirmação, carinho a aprovação por parte dos pais, responsáveis ou outras pessoas significativas. Um adulto não necessita disso para ser feliz, embora, seja bom que o tenha. 

Quando a criança atua no adulto

Há duas posturas dos pais que podem atrofiar o desenvolvimento emocional dos filhos: desantenção e superproteção, respectivamente. São  atitudes opostas que podem produzir neuroses de aprovação que caracterizam adultos exageradamente carentes ou excessivamente mimados. Essas duas versões da mesma neurose exigem atenção, aprovação e amor das pessoas. Quando nao recebem, essas crianças em corpo de adultos, ficam emburradas, agressivas, por um lado; ou recolhidas e deprimidas, por outro lado. Tanto  o comportamento de  recolhimento quanto o de agressão prejudicam a qualidade afetiva dos relacionamentos. 

Por que é infantil  e irracional exigir amor, cuidado e aprovação das pessoas? 

1.      É virtualmente impossível  exigir que seu comportamento agrade a  todos.  Agradar a uns e desagradar a outros faz parte da vida de qualquer  ser humano. Isso porque “cada ponto de vista é a penas a vista de um ponto” e é natural que as pessoas vejam cada situação a partir de seu próprio ponto d eobservação. Tentar ocupar o ponto de vista de cada pessoa é infantil e irracional.

2.      Quanto mais você  exige amor e atenção dos outros, menos respeito, admiração e cuidado você recebe. Ninguém consegue conviver satisfeito com pessoas excessivamente carentes ou agressivamente pegajosas, porque sente seu território invadido. Demandas de afeto afetam a qualidade dos relacionamentos, pois, afeto não se pede, muito menos se exige. Afeto se conquista, ou não.

3.      Você  cria expectativas irreais em relação ao quanto e até que ponto as pessoas devem amar você. Algumas pessoas tem um temperamento que não demontra nem exige muito afeto das pessoas mais próximas. Outras, demontram e exigem demais. Outras, ainda, demonram muito pouco, mas demandam exageradamente. Esss diferenças na demontração e busca de afeto, produzem muitos problemas relacionais e destróem amizades, parcerias e casamentos, porque, exigir demais de quem demonstra pouco abre sempre uam ferida afetiva na relação.

4.      Quanto mais você exige amor, mais “gostável” você acha que deve se apresentar. Muitas pessoas que dão muitos presentes, fazem muita caridade e nunca dizem não quando são chamadas a ajudar os outros, fazem isso não por bondade, senso de dever ético ou social. Na verdade, estão buscando aprovação do grupo ou de alguém em particular.

5.      Quanto mais você  busca amor e atenção dos outros, mais você revela uma autoestima baixa. Autoestima que depende da estima externa para se manter em alta, fica quase sempre baixa. Há esposas que “perdem o dia” se o marido acorda de cara feia. Um funcionário se deprime se o chefe o corrige. Um empreendedor abandona um projeto só porque parte da equipe apontou defeitos de planejamento. Assim, a dependencia da valorização do outro, gera profunda insegurança e oscilação da motivação, que sempre dança conforme a musica que os outros tocam

6.      Você passa a viver para  atingir às expectativas dos outros, em vez gastar as energias para atingir seus objetivos. Viver para agradar os outros, tentando atrair sua aprovação, faz você negligenciar seus próprios alvos. Sem foco, você passa a fazer muito movimento sem deslocamento. Não chegando a lugar nenhum, você fica cada vez mais dependente da atenção dos outros para ser feliz

            Todos nós precisamos de reconhecimento e respeito que vem do ambiente, da comunidade, dos relacionamentos. Ser humano é ser-com-os-outros. Sem o outro o humano em nós não desperta, nem evolui. Mas, perder o eferencial de si mesmo é igualmente doentio. Adoecemos sem o outro e adoecemos quando nos perdemos na vontade do outro. A saúde e a virtude está no equilíbrio entre ser-si-mesmo e ser-com-alguém. Qualquer movimento além do centro resulta em desequilíbrio, neurose e tantos outros males que atrofiam a alma e  azeda as relações.