Carl Jung é um dos teóricos que eu mais aprecio com respeito ao
estudo da psique e do comportamento humano. Assim como Freud, ele
assume o inconsciente como o avesso humano de onde emergem as questões
mais significativas do comportamento. Porém, diferentemente de Freud,
amplia a compreensão do inconsciente, de mero depósito de traumas
infantis e fábrica de desejos, para uma porção da psique que envolve
tanto a dimensão individual, quanto a coletiva.
É dele o
conceito de compensação, ou seja, quando apresentemos no comportamento
manifesto uma determinada atitude, o oposto dela permanece inconsciente.
No que diz respeito aos tipos psicológicos - assunto que abordamos aqui
- face e contra-face fazem parte de um mesmo eixo, sendo a face a
parte dominante e consciente; e a contra-face, a parte recessiva
inconsciente.
Nesse sentido, Jung fala de duas atitudes
fundamentais que orientam o comportamento humano: uma dirigida ao
objeto, outra dirigida ao sujeito. Quando a libido, ou seja, a energia
da vida, é dirigida predominantemente para o objeto, o indivíduo é
considerado extrovertido. Quando a mesma energia é predominantemente
contida no sujeito, ele é considerado introvertido. Mas, todos, afirma
Jung, "possuem ambos os mecanismos, tanto a extroversão, quanto a
introversão. E somente a predominância de um, ou do outro, determina o
tipo."
Jung apresenta as características das duas atitudes:
Introversão | Extroversão |
| · O objeto tem valor mais alto que é sujeito
· Orientação interrelacional
· Desejo de influenciar e ser influencidado por eventos externos
· Desejo de participação e envolvimento
· Capacidade de tolerar e gostar de barulho e “acontecimentos”
· Constante atenção ao que ocorre no entorno de si
· Formação de vínculos com um grande número de pessoas sem muito critério de seleção
· Tendência a falar muito e tentar ser o centro das atenções
· Tendência a exagerar sobre suas qualidades e realizações
· Consciência dependente da opinião pública
· Convicções religiosas determinadas pelo que pensa a maioria
· Otimismo e entusiasmo
· Vida subjetiva inconsciente e pobre
· Uma vez que não seja superficial, exageradamente falastrão e inconveniente, pode ser um membro útil de uma comunidade.
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Nesse ponto você já pode empiricamente
verificar se sua atitude predominante é a extroversão ou a introversão.
Todavia, segundo Jung, a atitude manifesta não elimina a atitude
latente, ou seja, as duas atitudes fazem parte do ser humano e, embora
uma seja predominante, a outra fica no inconsciente. Por exemplo: um
indivíduo predominantemente extrovertido pode momentaneamente atuar como
introvertido, muito embora, se persiste assim por muito tempo, fica
estressado, por não ser seu modo confortável de lidar com o ambiente.
Jung identifica quatro funções conscientes que acompanham a atitude-tipo: Pensamento, sentimento, sensação e intuição. A função sensação estabelece que alguma coisa existe; a função pensamento nos diz o que ela significa; A função sentimento, por sua vez, avalia o quanto a coisa vale, e a função intuição nos diz de onde a coisa veio e o que pode acontecer com ela.
Sensação
e intuição são funções irracionais "porque ambas estão preocupadas
apenas com o que acontece e com realidades reais ou potenciais."
Pensamento e sentimento, por sua vez, são funções discriminativas,
portanto, racionais.
As quatro funções formam pares de
opostos. Sensação e intuição não operam juntas. Intuição tem a ver com
realidades escondias, potenciais; sensação é a função que lida e opera
na realidade presente, preto no branco, no aqui e agora. Da mesma forma,
a função pensamento é oposta à função sentimento, "porque o pensamento
não pode ser influenciado e desviado de seu propósito pelo
sentimento. O sentimento, por sua vez, é fortemente influenciado e
viciado por muita reflexão.
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