É de Paul Tillich a definição de "neurótico" mais apropriada que já li: "O neurótico é aquele que, tentando evitar o não-ser, evita o ser."
De fato, o estancamento é a característica mais acentuada da neurose.
Por medo de ser quem realmente é, o sujeito assume uma caricatura; e
quem assume uma máscara por muito tempo, cola-se a ela e se
descaracteriza, vira um mero personagem em busca de aplausos da
audiência.
Tenho
fortes razões para pensar numa derivação importante de neurose, a que
chamo de "neurose de imagem." É uma versão piorada do narcisismo
freudiano porque, além de mergulhar na própria imagem, por
se encantar com o próprio reflexo, o neurótico de imagem deriva sua
autofascinação do espelho popular a quem constantemente recorre: "Espelho meu, espelho meu, diga se existe alguém mais fascinante do que eu." Não é que o espelho minta, necessariamente, mas é que só vê a pele, as cores da casca.
Na
verdade, líder neurótico de imagem, e o espelho popular se completam e
necessitam um do outro. O líder precisa da aprovação popular
para manter sua autoimagem, no caso, heteroimagem, em alta. A massa
liderada, por sua vez, precisa de alguém que dependa de sua aprovação,
que acate seu parecer de virtude e "performance."
A
autoestima da massa, também depende da imagem que seu líder neurótico
tem no mercado externo, para que ela possa se sentir bem-sucedida. Por
exemplo, muitas igrejas se sentem grandemente recompensadas quando seu
líder é bem situado no ranking dos conferencistas de peso. Isso dá à
coletividade a sensação de sucesso, através do nome de seu líder. Muitas
vezes, porém, à custa de desarrumação e descuido interno.
Essa
é, talvez, a mais complicada forma de neurose interposta entre o líder e
seus liderados, pois, além de ser sutil, vicia. Sutil porque não dói,
não machuca na superfície, não gera desprazer. Vai chegando de mansinho,
se instala e vai dominando, cada vez mais forte, a cada sessão de
aplausos. Vicia, porque produz uma satisfação capaz de gerar demanda de
repetição, produzindo uma dependência tão forte que aplausos e elogios
acabam sendo buscados como indutores de prazer, pílulas de satisfação.
A
neurose de imagem é uma enfermidade emocional própria de personalidades
públicas, líderes de massa: pastores, professores, padres, políticos,
entre outros profissionais de palco, tendem a sofrer desse mal. Alguns,
inclusive, caem em depressão quando não despertam resposta elogiosa do
"fã clube"; e outros podem até surtar, mesmo que temporariamente, quando
vaiados.
Algumas características do neurótico do líder que sofre da neurose de imagem são:
1. Competência.
É normalmente uma pessoa que chama a atenção por sua capacidade de
superfície. Mesmo que por dentro ela seja insegura, quase sempre faz um
trabalho bem feito, em muitos casos, bem acima da média. É alguém de
quem as audiências costumam falar bem, elogiar, mimar, agradar e
solicitar.
2. Perfeccionismo.
Esse tipo de neurótico exige demais de si e, em geral, dos outros que
fazem parte de seu projeto público, pois, se eles falham, sua imagem é
arranhada. Imagem arranhada é sua fobia mais forte. Por exemplo, um
pastor-pai pode tiranizar seus filhos para que eles não sejam "mal
falados" na igreja, às vezes, por serem apenas iguais a todos as demais
crianças e adolescentes.
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